15.6 C
São Paulo
27 de julho de 2025

Smart Grids, a luz que faltava ao mercado de energia elétrica no Brasil

<p>O que se observa hoje é uma postura reativa por parte das empresas – que sofrem com o excesso de dados “soltos” e com a falta de visão em alguns processos –, principalmente em situações de quedas de energia, sejam elas localizadas, ou mesmo apagões e até “apaguinhos”. Quando isso ocorre, o cliente precisa ligar para avisar que está sem luz e esperar que resolvam o problema. A partir das redes inteligentes, que pressupõe a instalação de medidores inteligentes, quando houver falta de luz na casa do usuário, o operador fica sabendo de imediato.</p>
<p>Com os sistemas adequados, é possível agregar níveis de conhecimento e informação para melhores capacidades de análises. A distribuidora poderá, por exemplo, saber qual foi o ponto da rede onde provavelmente houve um incidente. Se todos os consumidores ligados a um transformador estão sem energia, é provável é que o problema esteja ali. Se 20% a 30% dos consumidores ligados a um transformador estão com energia, então o problema não está ali. Esse tipo de coisa permite maior agilidade e flexibilidade na resposta da distribuidora a um incidente.</p>
<p>Outro ponto positivo é o fato de as redes inteligentes permitirem aos consumidores tirar partido de regimes tarifários diferenciados como, por exemplo, a “tarifa branca”, aprovada pela ANEEL, mas de uso ainda não generalizado.</p>
<p>Os benefícios das Smart Grids também estão relacionados à rentabilidade do mercado de energia, pois os chamados “gatos” de luz estariam com os seus dias contatos. Com as redes inteligentes e as informações adequadas, será possível verificar o foco do roubo e, por fim, saná-lo. Em Israel, por exemplo, o uso de redes inteligentes reduziu em 50% a fraude de energia elétrica em Jerusalém Oriental. É um exemplo real do que essa tecnologia pode proporcionar, alinhada a informações confiáveis, no sentido de contribuir para uma gestão mais eficaz na distribuição de energia e melhor desempenho do sistema.</p>
<p>A má notícia é que essas mudanças não serão implantadas da noite para o dia. Assim como a internet demorou para se consolidar – há 15 anos atrás era inviável imaginar que assistiríamos vídeos ao vivo pela internet, devido aos custos, à banda, etc. – da mesma forma, a Smart Grid levará um tempo para ser realidade, principalmente em função dos altos custos para implantá-la, algo que atinge a casa da dezena de bilhões de reais.</p>
<p>No entanto, vale lembrar que no final de agosto houve um apagão na Região Nordeste que, por conta de uma queimada, afetou nove estados e teve custo para a economia nacional da ordem de R$ 20 bilhões. Com a rede inteligente – que não abrange apenas distribuição, mas também os setores de geração e transmissão – é possível usar a informação para minimizar esse tipo de situação e, dessa forma, o projeto pode “se pagar”.</p>
<p>Ao serem feitos os cálculos do retorno financeiro obtido em relação ao investimento realizado, sem dúvida a conclusão é de que qualquer centavo aplicado em Smart Grids vale a pena. Se o Brasil não quiser ficar no escuro outra vez, e também estar em linha com as ferramentas atuais em nível global, precisa parar de ser reativo e ficar ligado às novas tecnologias e soluções.<br /> <br />(*) Líder da Vertical de Energia Elétrica na Imagem e especialista no setor</p>