(*) Paulo Silveira.
Toda discussão que é “hypada” uma hora acaba perdendo força. Por outro lado, nem todo “hype” é necessariamente passageiro, já que muitos dos assuntos que ganham um “boom” de debate na mídia, redes sociais e sociedade como um todo acabam apenas sendo incorporados em nos seus setores e são “normalizados”.
É o caso da Inteligência Artificial (IA).
Um relatório do Similarweb aponta que o ChatGPT, criação da OpenAI que explodiu no início do ano, vem apresentando um declínio de acessos a nível mundial. Em agosto, essa queda foi de 3,2%, enquanto nos dois meses anteriores os percentuais cercavam a casa dos 10%.
É interessante olharmos para essa ferramenta em específico porque ela exemplifica perfeitamente o momento tecnológico atual. Hoje, praticamente todos os dias vemos novos avanços em relação à IA, com pequenas inovações gradativas. Ou seja, o surgimento de recursos inéditos faz barulho dentro da comunidade tech e em outras, como a própria versão mais recente do chatbot, ainda que a sua função atual já seja absurdamente útil para uma série de profissionais.
Com isso, a notícia do aprimoramento do ChatGPT pode não ter o mesmo impacto do contexto em que ele foi lançado, dando a sensação de que o alarde em torno do assunto já passou. No entanto, o que observamos na prática é justamente o contrário.
É como o sapo sendo cozinhado na panela. Talvez não percebamos completamente, mas a IA está, sem dúvidas, sendo adotada em todos os lugares e isso contrasta com o hype em torno de outras tecnologias, como metaverso, NFT e blockchain, que claramente não se sustentaram.
Alguns dados levantados pelo LinkedIn reforçam esse cenário. Segundo um relatório sobre o futuro do trabalho produzido pela plataforma, 85% das pessoas estão confiantes para integrar as ferramentas desta categoria em suas atividades, não só com o objetivo de melhorarem resultados e crescerem profissionalmente, como também alcançarem o sucesso pessoal. Além disso, os números ainda apontam que 48% dos entrevistados já começaram esse processo de experimentação no cotidiano.
Mesmo aqui na Alura, também percebemos a constância na relevância dessa tecnologia no dia a dia. O curso “Inteligência Artificial Generativa: Midjourney e ChatGPT”, da nossa escola de IA, por exemplo, acumulou mais de 8 mil matrículas desde a sua inauguração há sete meses.
Isso sem mencionar que não estamos falando só de profissionais de TI, apesar deles ocuparem a linha de frente das classes que utilizam a IA. Internamente, notamos que existe uma forte diversidade de segmentos que mais vêm se aprofundando no tópico, sendo os principais deles: Desenvolvimento de Software (15,7%), Finanças (9,3%), Vendas (8,3%), Marketing (7,8%), Educação (6,8%) e Engenharia (6,3%).
Os dados também indicam que não há só uma finalidade na busca por esse conhecimento. Dentre as três metas que mais se destacaram entre os respondentes, estão: automatizar processos no dia a dia do trabalho, poder aprender algo novo para aplicar em suas respectivas áreas e entender como usar a tecnologia de forma profissional.
Olhando para tudo isso, está claro que há uma certa confusão no “hype” da IA, que pode ser interpretada como algo que “não pegou”. É muito pelo contrário! As pessoas estão usando o ChatGPT, Photoshop ou outras ferramentas que auxiliam em diferentes setores, seja no copywriting, no UX ou em outras aplicações. A grande questão é que essa incorporação acontece de modo gradativo e no formato da vida real, mais distante do “boom” midiático.
Portanto, já é um recurso que faz parte da sociedade, especialmente por ser um aliado dos seres humanos, não um substituto. A IA otimiza a eficiência do trabalho das pessoas e se trata de algo mais prático do que muitas vezes imaginamos; por isso as discussões a respeito dela são fundamentais, apesar da tendência de ficarem cada vez mais com uma característica de “pé no chão”.
E não se engane, essa perspectiva é excelente e com certeza ainda contribuirá muito para o cenário tecnológico e de inovação.
(*) CEO e cofundador da Alura.