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23 de agosto de 2025

Engenharia de Plataforma como motor estratégico da transformação digital com IA

Jefferson Sá (*)

O desenvolvimento de software passou de um processo linear para um ecossistema altamente sofisticado, no qual Engenharia de Plataforma e Inteligência Artificial (IA) assumem papéis centrais na busca por inovação e expansão. A digitalização acelerada, somada ao volume crescente de dados e sistemas, redesenhou completamente esse universo. Elementos antes considerados secundários, como proteção, capacidade de escala e resiliência, tornaram-se fundamentais, impulsionados pela adoção de arquiteturas distribuídas, soluções em nuvem e um cenário tecnológico cada vez mais dinâmico.

Práticas como Integração Contínua e Entrega Contínua (CI/CD) e uso de containers são indispensáveis para manter o ritmo das entregas, mas contribuíram para o aumento da complexidade mental e da especialização técnica. Com isso, surgiram obstáculos relacionados à comunicação, à rigidez nos fluxos de mudança e aos prazos limitados. Essa complexidade, sem uma orquestração adequada, gera custos invisíveis: redundância de esforços, gargalos em SLAs de infraestrutura e uma sobrecarga cognitiva que inibe a inovação e o aproveitamento pleno dos talentos. Modelagens ágeis e a filosofia DevOps surgiram como resposta, priorizando agilidade e qualidade.

Metodologias ágeis e a filosofia DevOps surgiram como resposta, priorizando rapidez e qualidade. Entretanto, o verdadeiro diferencial está na uniformização de processos, no alívio da sobrecarga cognitiva e no foco na Experiência do Desenvolvedor (DevEx), com times especializados em eliminar gargalos, promover fluidez e fomentar criatividade.

Segundo o Gartner, a Engenharia de Plataforma é uma tendência estratégica que representa a engenharia de software do amanhã, especialmente relevante para organizações em processo de crescimento. Com a IA generativa começando a automatizar tarefas antes exclusivamente humanas, seu papel se expande: ela viabiliza consistência, sustentação e governança em ambientes marcados pela diversidade de nuvens, frameworks, linguagens e agora também modelos de linguagem natural (LLMs).

Outro pilar dessa disciplina é a promoção da autonomia dos profissionais de tecnologia, diminuindo dependências e oferecendo ferramentas de autoatendimento que aceleram o fluxo de trabalho. Essa autonomia alinhada – onde o desenvolvedor tem liberdade para inovar dentro de um ecossistema padronizado e suportado por IA – não só acelera a entrega, mas também eleva o engajamento e a capacidade criativa das equipes. Além disso, acompanhar o impacto das entregas potencializadas por IA, por meio de indicadores como DORA, SPACE e FLOW, torna-se essencial para tomada de decisão baseada em dados.

A IA, por sua vez, evolui de mero suporte operacional para uma vantagem estratégica. Na V8.Tech, nossa jornada em Engenharia de Plataforma precede a recente explosão da IA. Nossos blueprints e aceleradores já vinham padronizando o desenvolvimento. O diferencial agora é como nossa expertise anterior se funde à IA. Ao mantê-la integrada como agentes, ela encapsula boas práticas e padrões para otimizar cada etapa do ciclo de desenvolvimento. Assim, sua aplicação vai além da escrita automatizada de código ou testes. Agora a IA contribui para ajustar recursos de forma eficiente, prever falhas e responder de forma proativa, antecipando problemas antes que se tornem críticos.

A observabilidade torna-se essencial para acompanhar o impacto dessa automação. Monitorar desde métricas técnicas (como degradação de serviços e SLAs) até indicadores chave de negócio e custos, integrando práticas de FinOps, é o que garante decisões bem embasadas. A IA potencializa esse processo por meio de AIOps, reduzindo ruídos, detectando anomalias, classificando eventos e apontando causas-raiz. Isso diminui o esforço operacional e eleva a eficiência organizacional.

Para escalar com qualidade, a Engenharia de Plataforma precisa se ancorar em metas tangíveis, como a redução no tempo de deploy, menos bugs em produção e maior produtividade dos times. Um exemplo prático é o “Agente de Discovery”, que acelera o mapeamento de sistemas legados e dependências técnicas.

Onde antes meses de trabalho manual eram necessários para entender um legado complexo – muitas vezes sem responsáveis claros ou documentação adequada – agora conseguimos em dias destravar projetos de modernização, viabilizando avanços concretos e focando no que realmente importa: a inovação. Além de acelerar e possibilitar essa mudança, já criamos, para atender a esses clientes, um novo agente de microsserviço que permite consumir essa documentação, gerar user stories e já implementar microsserviços que atendem aos requisitos de negócio e utilizam todas as definições e boas práticas do cliente.

Nos próximos anos, espera-se uma operação ainda mais inteligente e orientada por valor. A IA generativa estará presente em todas as fases do ciclo de desenvolvimento. Práticas como SRE e DevSecOps serão parte integrante da cultura e das ferramentas. As plataformas evoluirão como produtos, centradas na experiência dos desenvolvedores. A observabilidade inteligente se tornará preditiva e autônoma. Ambientes híbridos e multicloud, por sua vez, consolidarão o conceito de compliance by design.

Acredito que, neste cenário, as empresas que investirem em Engenharia de Plataforma, IA e observabilidade estarão não apenas prontas para evoluir, mas também para liderar a transformação digital dos seus mercados. A sua empresa está pronta para forjar o futuro e escrever essa nova etapa da história humana?

(*) Diretor de Inovação da V8.Tech.