De acordo com o estudo, 83% dos mantenedores ouvidos disseram que o aprendizado ficou mais personalizado, reduziu custos e aumentou a produtividade
Crescimento da modalidade não é maior por falta de oferta
AD2L,juntamente com o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior – Semesp, divulgou na última segunda-feira a pesquisa inédita “O Ensino Superior e o EAD”. Realizado pela Toledo & Associados, o estudo ouviu 20 instituições de ensino superior, sendo 10 que já usam a modalidade e 10 que não usam ou estão em processo de desenvolvimento, no período de 19 de janeiro a 27 de fevereiro desse ano, e teve como objetivo averiguar a receptividade, interesse, envolvimento e avaliação do ensino a distância e a adoção de soluções pedagógicas e sua interação com tecnologias disponíveis.
Num período de cinco anos o EAD cresceu no Brasil 37,8% em número de matrículas (1.153.640 matrículas em 2013 contra 837.431, em 2009). E são apenas 166 instituições de ensino superior que oferecem a modalidade, sendo 83% na rede pública e 83% na privada. “No entanto, a partir de 2009, o Ministério da Educação decidiu controlar a abertura de novos polos e os processos de tramitação foram brecados”, lembrou o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.
Segundo dados, o EAD é mais procurado por uma faixa etária diferenciada do presencial, entre 25 e 39 anos, um público mais maduro e hoje há falta de oferta. “O Brasil tem 20 milhões de brasileiros nessa faixa etária com ensino médio completo. Se apenas 10% entrassem no EAD, já seriam 2 milhões de novos alunos. É preciso ampliar a oferta e as modalidades de EAD diminuindo a burocracia no credenciamento de novos cursos e reduzindo a evasão que ainda é alta, de 28,8%”, alertou. Entre os cinco cursos que tiveram maior taxa de graduação no Brasil em 2013, estão: Pedagogia (45%), Gestão Ambiental (42%), Gestão Pública (38%), Administração (35%) e Processos Gerenciais (35%).
Vantagens e desvantagens
Para o pesquisador Marcos Simonetti, da Toledo & Associados, e responsável pela aplicação dos questionários do estudo, todas as IES que usam a modalidade foram unânimes em dizer que utilizam os 20% não presencial permitidos nos cursos e que a autorização no uso das plataformas sofre com burocracias internas da própria instituição (leva de 3 a 5 anos) e externa, do MEC (de 1 a 2 anos).
“Nas IES com ensino a distância desde 2000, a maioria tem entre 1 e 7 anos oferecendo a modalidade na graduação, houve uma multiplicação dos alunos e o EAD passou a ter uma representatividade muito superior aos cursos presenciais. A média de alunos para as IES que não oferecem EAD ficou em cerca de 3 mil alunos, enquanto para as que oferecem passou a mais de 19 mil”, revelou.
Outro dado curioso: das 10 IES que ainda não oferecem a modalidade, duas estão em processo de implantação, seis ainda pensam mas a longo prazo e apenas duas acreditam que o ensino a distância não tem a qualidade do presencial. Embora com portes diferenciados e características regionais distintas, a maioria acredita que o caminho para implantação da modalidade é inevitável, mas ainda exige investimento alto, o preço da mensalidade do curso é baixo e oferece um retorno financeiro bem menor que o presencial.
“E das 10 IES que já possuem a modalidade, os professores representam a maior dificuldade na implementação, pois há ainda forte resistência pelo medo de perder postos de trabalho, um entendimento errôneo de que a modalidade é fácil e simples e uma dificuldade para qualificar os profissionais para a EAD”, completou Simonetti.
A infraestrutura também é uma dificuldade comum a todas as IES na implantação do EAD. Os polos precisam de computadores, acesso à Internet (um problema, pois servidores caem e é necessário manter um datacenter), biblioteca física, além de cada IES ter que negociar cuidadosamente com cada parceiro para definir responsabilidades e ganhos.
Embora existam dificuldades para implementação dos cursos de EAD, que ainda tem custo alto a curto prazo, de acordo com o estudo 83% dos mantenedores ouvidos disseram que o aprendizado ficou mais personalizado, com impactos positivos nos métodos pedagógicos, redução de custos a longo prazo, ampliação do escopo da instituição, aumento de alunos, melhora no nível dos professores que passaram a planejar melhor as aulas com o uso das plataformas o que ainda um maior dinamismo nos cursos presenciais. “Algumas instituições citaram casos de alunos passando em concursos e com nota 4 no ENADE e também cursos com nota 5 na avaliação do MEC”, lembrou Simonetti.
Tecnologias reduzem evasão
A pesquisa mostrou ainda que o uso de tecnologias entre as IES consultadas é corrente em todas elas, em níveis distintos, mas com impacto benéfico. Enquanto a acessibilidade aos portais é ‘universal’, a adoção de outras ferramentas é mais incipiente, o que tem consequências na adoção de técnicas pedagógicas baseadas na tecnologia.
Há diferenças ainda em relação à profundidade de cada benefício do EAD, que pode se basear em números, experiência ou simples percepção. Cerca de 100% dos entrevistados disseram que o uso de tecnologias facilitou o acompanhamento do desempenho do aluno, desenvolveu novas estratégias docentes e tornou o planejamento e a avaliação dos professores mais eficaz. O desempenho dos alunos melhorou para cerca de 92% dos respondentes. Já para 83% dos entrevistados, as tecnologias tornaram o aprendizado mais personalizado, houve redução nos custos administrativos e acadêmicos e para 44% das IES houve redução na evasão de alunos.
Maior produtividade
Para Betina Von Staa, diretora de Desenvolvimento de Negócios da D2L, em tempos de redução de custos e investimentos na educação global, as novas tecnologias para o aprendizado em blended learning (misto de ensino a distância e presencial), como a plataforma Brightspace, transformam os processos pedagógicos e melhoram a produtividade.
“Transformando os processos há uma redução no financiamento e orçamento por parte das IES, melhor gestão e melhora na produtividade dos professores, que têm maior disponibilização de conteúdo, entrega de trabalho e avaliação fácil, além de acompanhamento em tempo real dos resultados dos alunos. Os alunos ainda podem assistir várias vezes as aulas gravadas, repetindo vídeos e áudios e os professores podem melhor interagir enviando mensagens a grupos específicos de estudo, o que torna o ensino mais produtivo e interativo, reduzindo a evasão”.
Betina lembrou de cases como o da Universidade de Notthingham, na Inglaterra, que adotou a plataforma e reduziu a avaliação de professores de seus alunos de 24 para 21 dias, com aumento de 13% na produtividade. Ou, ainda, uma retenção de 90% de uma turma de 2.100 alunos nos cursos de Saúde da Deakin University, na Austrália.
O evento se encerrou com a apresentação de Ana Lúcia Rossi, responsável pela Coordenação de Tecnologias Educacionais da Fundação Getúlio Vargas que trabalha na implantação da plataforma Brightspace em oito unidades da universidade, três em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. “O processo de implementação é longo mas compensador, exige investimento, criação de comitê interno para discussão, com a participação de equipes de suporte acadêmico e de tecnologia e muito apoio técnico. Mas o fundamental é capacitar os professores o tempo todo, criando projetos-pilotos para experimentar as ferramentas e aplicar em grupos, aumentando gradativamente o número de professores e disciplinas envolvidas e fazendo um trabalho de comunicação semanal para disseminar o uso das plataformas e contaminar todos os usuários”, ensinou.
Segundo a educadora, antes o ensino a distância na FGV fazia uso de diversas plataformas e agora o objetivo é unificar e convergir para uma só, com maior mobilidade. O projeto começou envolvendo 30 disciplinas, 30 professores e apenas 350 alunos e em abril desse ano já são 4.500 alunos, 2.300 em São Paulo e 1.175 no Rio de Janeiro. “No final de julho em todas as oito unidades as outras plataformas serão desligadas e todos os alunos e professores já estarão usando a plataforma nova”, finalizou.