Segundo Karl Marx, a relação entre capital, trabalho e alienação, promove a coisificação do mundo. Isso mesmo: coisificação – relações, estratégias, status, riquezas. Tudo medido pelo volume de coisas que o individuo possui. Ter um carro do último modelo, roupas das melhores marcas, estudar nas melhores escolas. É a estrutura baseada em poderes na qual vivemos hoje, guiada por um senso comum da sociedade.
A coisificação do homem é culpa do sistema capitalista em que vivemos. Isso porque o capitalismo, por mais necessário e benéfico que possa ser para setores da economia e do desenvolvimento, estimula a ganância, a busca por diferenciação e o consumismo. De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o consumidor brasileiro tende a se preocupar com a imagem que transmite as pessoas do seu convívio como parentes, amigos e colegas de trabalho. Dados do estudo mostram que 43% dos entrevistados gostam de comprar produtos no lançamento para exibir para as pessoas.
Parece que nós seres humanos ficamos tendenciosamente voláteis, de acordo com cada novidade mercadológica, tecnologia inovadora ou novo modelo de carro lançado, por exemplo. Acabamos nos esquecendo de tudo o que ficou para trás, de forma extremamente rápida. A cada dia nossas metas aumentam, nossos objetivos mudam, nossos sonhos sempre vão ficando maiores, tudo por culpa dela, a coisificação. Segundo o mesmo estudo do SPC Brasil, 59% dos entrevistados admitiram ter se endividado por comprar algum produto que não precisavam.
Acontece que o universo não processa nem elimina tudo o que descartamos de uma forma tão rápida quanto a nossa volúpia de comprar sempre mais e mais. O resultado disso é que cada vez estamos mais apertados. Seja no trânsito, dentro de casa, ou qualquer momento do dia a dia, pois somos bombardeados diariamente com novidades sociais, tecnológicas e mercadológicas. A televisão que temos hoje logo deixa de ser a melhor, pois a cada três meses um modelo inovador é lançado e começamos a achar a nossa uma porcaria. Isso é normal do capitalismo.
Mas será que não passou da hora de pensarmos nisso tudo com mais ética e coerência? Afinal, a pobreza continua aumentando e a riqueza tambem, não necessariamente na mesma proporção. Não seria o momento de reavaliarmos todo esse processo, em um momento onde vemos tanta corrupção, falcatruas, descaso com o dinheiro público, dissociação dos relacionamentos humanos, falta de comprometimento com prazos e com a execução de serviços?
Então que tal pensarmos duas, três vezes antes de trocar de carro? Que tal sermos mais conscientes antes de trocar nossos eletrodomésticos? Fazermos uma compra realmente por necessidade ou por substituição de algo quebrado? Ser mais humano e ligar para aquele amigo que faz um tempão que você não conversa, antes de dar uma cutucada ou indireta nas redes sociais? Dados de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelaram que quase metade dos entrevistados (47%) admitiram que, por impulso, já compraram produtos que nem chegaram a usar.
É fato que o capitalismo move sim o mundo, e que a coisificação cresce cada dia mais. Já que não podemos mudar isso, deveríamos tentar, pelo menos, diminuir nossa responsabilidade, tratando de forma igualitária nossos parentes, amigos, pares, funcionários e prestadores de serviço. Mostrando a cada um deles o seu valor e mantendo uma relação humana ou comercial saudável.
O próprio Marx diz que a transformação social só se dá mediante a consciência da classe ou a revolta dela. Vamos conscientizar, é melhor né?
*Gustavo Ernandes – CEO da Settiges DPP – agência brasileira que pensa 360o (www.settiges.com.br)