Especialistas reforçam que o futuro da força de trabalho está nas mãos das lideranças de hoje
No painel Empresas AI First: Reinventando Carreiras e Competências, do ABES Summit 2025, que aconteceu no dia 8 de outubro no JW Marriott, em São Paulo, especialistas debateram os desafios e oportunidades da transformação digital nas organizações. Moderado por Juliana Ramalho, CEO da Talento Senior, o painel reforçou que o futuro da força de trabalho está nas mãos das lideranças de hoje — e que preparar pessoas para trabalhar com IA é uma decisão estratégica, não apenas técnica.
Camila Achutti, CEO da Mastertech, destacou que o conceito de “AI First” ainda precisa ser amadurecido nas empresas brasileiras: “A gente precisa de empresas com pessoas prontas para usar e aplicar IA com propósito. Tecnologia é meio, não fim. Se não estivermos resolvendo problemas reais de pessoas, estamos fazendo tecnologia só pela tecnologia.” Ela também reforçou que a infraestrutura organizacional deve estar preparada para integrar processos, dados e cultura, e que o foco deve estar em formar profissionais capazes de fazer boas perguntas e aplicar IA com senso crítico.
Já Paulo Moraes, cofundador do Instituto Talenses e diretor da divisão LANDtech, chamou atenção para a importância da liderança na definição de perfis profissionais e na aplicação estratégica da IA. “Muitas empresas entram no hype, montam áreas de IA sem saber exatamente o que precisam. A liderança precisa entender as tecnologias disponíveis, os resultados esperados e só então definir os perfis adequados para tocar esses projetos.” Segundo ele, há casos em que profissionais contratados com expectativas de transformação acabam frustrados por falta de espaço para inovação, o que evidencia a necessidade de alinhamento entre estratégia e cultura organizacional.
Silvia Bassi, publisher do The Shift, trouxe uma visão crítica sobre o excesso de expectativas em torno da IA. “Estamos numa fase em que a cobrança por resultados começa a superar o hype. A IA existe, está sendo implementada, mas ainda contamos uma história incompleta. Agora é hora de mostrar resultados concretos.” Silvia também destacou que, ao contrário do que se pensa, a IA exige talentos humanos altamente qualificados, especialmente com competências em áreas humanas, como pensamento crítico e ética.
Indústria de software pós-IA, o futuro do SaaS e os novos modelos de valor
Especialistas também debateram como a inteligência artificial está transformando os fundamentos da indústria de software durante o ABES Summit 2025. O painel A Indústria de Software Pós-IA: Adeus ao SaaS como Conhecemos? reforçou que a indústria de software está em transição. A IA não apenas altera o produto, mas redefine o modelo de negócios, a forma de medir valor e os caminhos para crescimento. Para investidores, empreendedores e líderes de tecnologia, entender essa nova lógica é essencial para capturar a próxima onda de inovação.
“A chegada da IA bagunça o mundo do software, trazendo novas competências e desafios. Isso gera transformação — e nosso papel aqui é entender como ajudar a fazer essa mudança acontecer”, ressaltou Lauro De Lauro, diretor adjunto da ABES e moderador do painel, que abriu a discussão destacando o impacto da IA na lógica de valor do software.
Laura Constantini, fundadora da Nido, apontou que o mercado está diante de uma nova fase, marcada por soluções mais verticalizadas e profundas. Segundo ela, “Estamos entrando em um cenário onde cadeias de valor exigem mais robustez e profundidade. A velocidade das mudanças pode tornar obsoletas até as empresas com base sólida de clientes e dados. É um momento de grandes oportunidades, mas também de reconfiguração.”
Para Luiz Sergio Leonel Utino, gerente de TIC da FINEP, a IA muda a forma como o software entrega valor, especialmente com a atuação de agentes autônomos. “Antes, o software dependia do ser humano para interpretar e agir. Agora, os agentes autônomos assumem esse papel. A orquestração dessas inteligências será o novo desafio — e é aí que o apoio da FINEP pode ser um caminho promissor”, afirmou.
Já Pedro Carneiro, COO da ACE Ventures, trouxe a perspectiva dos investidores e empreendedores, destacando o impacto da IA na escalabilidade dos negócios: “Estamos vendo empresas chegarem a 100 milhões de dólares de receita em menos de um ano. A IA acelera tudo, mas também torna o mercado mais competitivo. Quem não escala rápido será empurrado para baixo. O meio da indústria — onde estão os ativos que não viram unicórnios — será o mais pressionado.”
