Apesar de parecem distantes, as duas áreas podem se complementar de acordo com a estratégia da empresa, diz especialista
A transformação digital do ambiente de trabalho tem colocado o RH em uma posição estratégica dentro das empresas, mas também apresenta desafios a partir da quantidade cada vez maior de dados, plataformas, automações e integrações sistêmicas. Segundo uma pesquisa da Aconso, publicada no ano passado pela revista HRM America, 53% das lideranças na área afirmam que soluções ineficientes e fragmentadas aumentam a carga de trabalho, e 64% dizem que ferramentas genéricas não atendem demandas mais específicas.
Esse desalinhamento também tem gerado uma sobreposição de responsabilidades que pode sobrecarregar áreas técnicas, especialmente o time de TI. É o que afirma Andréa Migliori, CEO da Workhub, ecossistema de experiência do trabalho. “O que vemos hoje são muitos pedidos vindos do RH que, sem o suporte correto ou sem uma visão integrada, acabam se tornando dores de cabeça para o time de tecnologia. E o contrário também acontece, quando decisões técnicas não consideram as necessidades do RH e acabam criando fricção nos fluxos de trabalho”.
Para lidar com o conflito, é preciso identificar os desafios e garantir a coparticipação entre as áreas. Migliori lista algumas situações comuns para auxiliar as organizações a reconhecer o problema.
- Sobrecarga de suporte
Diversos processos são criados e alterados pelo RH em diferentes contextos, seja na contratação de novas pessoas ou em demandas do dia a dia do time. Quando algo é modificado sem uma consulta prévia ao TI, é possível que erros ocorram, e a necessidade de suporte fica, também, com o TI.
“Na hora de mudar um formulário, criar um novo canal ou ajustar um fluxo de onboarding, não é difícil surgirem falhas, já que o pessoal do RH não conhece as especificidades técnicas de cada ferramenta. Às vezes, um erro só é percebido quando o TI recebe tickets de suporte em massa, especialmente no caso de grandes empresas”, aponta Andréa.
- Sistemas desintegrados
Atuar com vários programas diferentes pode atrapalhar qualquer departamento. Quando o RH mistura o uso de sistemas, planilhas e outras ferramentas, torna-se difícil encontrar os dados certos na hora certa.
A tarefa de organização pode ser realizada pelo próprio RH, mas, às vezes, é preciso ajuda para lidar com softwares de forma mais aprofundada. “O TI vem ‘salvar o dia’, por assim dizer”, comenta a CEO.
- Falhas na adoção de novas ferramentas
Se não houver mudança de governança ou mesmo mentalidade para incluir novas ferramentas no cotidiano da organização, o RH pode acabar ativando o TI para suporte sem necessidade.
“A introdução de novas tecnologias pode resolver diversas questões do RH, mas exige preparo e engajamento da equipe”, diz Andréa. “Treinamentos, comunicação clara e uma boa estratégia de adoção são essenciais para evitar retrabalho e garantir que os recursos sejam bem aproveitados.”
- Gestão de acessos mal estruturada
Sem processos bem definidos, muitas pessoas podem receber acessos indevidos a manuais, pastas, plataformas e sistemas — o que demanda do TI uma série de intervenções.
“Quando alguém muda de cargo ou sai da empresa, por exemplo, esses acessos nem sempre são atualizados ou revogados a tempo, o que gera riscos à segurança da informação”, complementa Migliori.
- Exigência de infraestrutura
Quando não há sistemas já integrados e prontos para abarcar diversos projetos, pode ser preciso “improvisar”. O problema é que o RH talvez não perceba que certas movimentações, como campanhas internas, vídeos e eventos digitais, precisam de planejamento e infraestrutura técnica.
“Ter uma ferramenta que organize as informações, centralize a comunicação e facilite o acesso a outras soluções já existentes pode ser um grande ganho”, comenta Andréa. “Assim, evitamos duplicidade de esforços e otimizamos a atuação de ambos os departamentos”, conclui.