Marcos Souto (*)
Garantir uma operação ágil e segura se tornou um desafio sem precedentes. Ambientes cada vez mais híbridos, o volume de dados em expansão acelerada e usuários com expectativas mais altas pressionam diariamente os Centros de Operações(NOCs). E, frequentemente, essa pressão surge de múltiplas frentes simultaneamente.
Monitoramento insuficiente: a armadilha da visibilidade desconexa
Teoricamente, a função do NOC é assegurar que tudo funcione perfeitamente. Na realidade, as equipes enfrentam uma coleção de ferramentas que nem sempre se comunicam — cada um analisando apenas uma fração do cenário completo. O resultado? Uma visão parcial e reações mais lentas, que atrapalham a identificação das verdadeiras causas de falhas ou quedas de desempenho.
Muitos operadores gastam horas tentando relacionar informações manualmente, numa tentativa de decifrar o que realmente acontece no ambiente. Quando os sistemas não dialogam, a infraestrutura se assemelha a um quebra-cabeça com peças perdidas.
Alerta não significa solução: o impacto negativo do excesso de notificações
Outro problema grave é a enxurrada de alertas. A maior parte deles não tem relevância — pequenas variações que não impactam o usuário, mas que insistem em aparecer como prioridades. Isso desgasta a equipe, consome tempo que poderia ser dedicado a resolver questões críticas e, ainda pior, cria uma situação paradoxal: se tudo é urgente, nada é.
Esse cenário prejudica a produtividade e afeta o ânimo da equipe. Em vez de atuar de forma estratégica, os profissionais acabam correndo atrás de notificações sem importância.
Equipes no limite: o desgaste humano por trás das telas
Por trás dos painéis de controle, há profissionais exaustos, enfrentando plantões intermináveis, turnos noturnos e a constante incerteza sobre o próximo problema. A sensação de estar sempre “apagando incêndios” não é exagero — é a realidade de muitos.
Muitos acabam deixando seus postos. Não por falta de dedicação, mas porque o ambiente se torna insustentável a longo prazo. E isso representa um risco sério: sem estabilidade, conhecimento acumulado e equipes motivadas, a operação perde eficiência.
IA como aliada, não como solução mágica
A inteligência artificial, especialmente em automação e análise preditiva, surge como uma esperança. Mas sua aplicação exige cuidado. A IA não é uma bala de prata — principalmente se for usada para disfarçar falhas de integração ou substituir o julgamento humano em decisões críticas.
Quando bem implementada, a IA pode filtrar alertas desnecessários, cruzar dados com agilidade e sinalizar anomalias antes que se tornem problemas. Ela potencializa o trabalho das equipes, mas não substitui a expertise e a intuição dos profissionais.
Integração como prioridade, não apenas inovação
O grande desafio atual não é adotar novas tecnologias, mas fazer com que as já existentes trabalhem em harmonia. A verdadeira evolução do NOC está na conexão entre sistemas — não apenas na modernização superficial.
Ambientes operacionais mais consolidados, com painéis centralizados e dados contextualizados, proporcionam uma visão estratégica e respostas mais ágeis. Isso diminui retrabalho, melhora a colaboração entre times e libera espaço para ações com maior impacto.
O equilíbrio entre pessoas, processos e tecnologia
O NOC do futuro — que já está se moldando hoje — será aquele que conseguir harmonizar tecnologia e capital humano. O sucesso virá para quem investir no desenvolvimento das equipes, na otimização de processos e em ferramentas que simplifiquem — e não compliquem — a operação.
No final, o objetivo vai além de manter o ambiente funcionando. Trata-se de permitir que as empresas operem com segurança, capacidade de inovação e foco no que realmente importa: entregar valor aos clientes.
(*) Diretor de Soluções Integradas da N&DC.